O Fernando teve a coragem de tornar realidade aquilo que certamente muitos de nós gostaríamos também conseguir fazer, pegar no essencial e avançar estrada fora sem destino.

Foi aproximadamente à um ano atrás que ele fez isso mesmo. Depois de ter regressado de uma viagem de inter rail, a ideia de regressar ao centro da Europa não se lhe saía da cabeça, e como não tinha nada a prendê-lo aqui em Portugal, mal teve essa oportunidade o Fernando não hesitou e tornou real a sua ideia de andar um ano pela Europa à boleia e sem dinheiro.

Ficámos com vontade de saber mais e estivemos um pouco à conversa com o Fernando…

Como surgiu esta ideia de saíres de Portugal quase sem destino e dinheiro?

Fiz uma viagem de Inter Rail no verão passado, e depois de ter voltado a casa uma ideia começou a fazer-se presente, e a cada dia, a bater mais forte em minha cabeça. Foi a primeira vez em 6 anos que fui para fora de Portugal. Depois de os meus olhos terem beijado novos lugares e de ter conhecido pessoas e culturas, foi essa ideia que me começou a alimentar o espírito.

Preparaste-te de alguma maneira para esta viagem?

Quando se pretende fazer uma viagem dessas, a mente e o estado de espírito são quase que as únicas coisas a preparar. Depois vem uma mala de 60 litros. Que dúvidas e expectativas tinhas antes de a viagem começar? A dúvida de voltar a casa, e a expectativa de ser ainda vivo.(risos)

Porquê começar esta viagem no inicio do Inverno e porquê em direção ao centro da Europa e a um clima bem mais frio?

Eu depois de ter regressado a Lisboa da minha viagem de InterRail, voltei a rotina e ao stress do quotidiano. Pensei nessa viagem cerca de 3 meses até que um dia disse a mim mesmo: “Stop thinking, do it”! Era Dezembro, e já fazia imenso frio. Não queria esperar até o verão. E como planeava estar na estrada durante um ano, era o momento certo.

Por onde andaste? Basicamente por quantos países passaste durante este ano que passou?

Estive a viajar por 14 países. Espanha, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Polónia, República Checa, Áustria, Itália, Hungria, Eslovénia, Suíça, Dinamarca e Portugal.

Durante a viagem como fizeste para subsistir? afinal de contas foste sem dinheiro e à boleia…

Com ajuda de amigos e pessoas que conhecia pelo caminho. Teria sido impossível sem a ajuda e amor de todos eles.(Obrigado). Mas claro que as vezes passava por dificuldades extremas. Mas isso eu já tinha conhecimento antes de começar a viagem. Por isso quando começava a ir a baixo, dava a mim mesmo um “banano” que era para acordar e concentrar energias para fora do centro do problema. No fim, dava sempre certo.

Conta-nos o melhor e o pior momento que aconteceu durante esta viagem!

O pior quando tive de vender meu Skate em Barcelona para comprar comida, e o melhor quando voltei a Áustria(Viena), e meu querido amigo Christoph Gasgeb me ofereceu um outro ainda melhor do que o que eu tinha.

Houve algum momento em que pensaste em desistir e regressar?

Sim claro! Quando temos frio, fome e nos vemos vazio de esperanças, desistir é por vezes o pensamento que nos alimenta. Mas quando esses pensamentos surgiam, era logo outro banano e pronto.

Durante a tua viagem houve algum reencontro com alguém aqui de Portugal?

Houveram vários! O primeiro encontro inesperado foi quando cheguei a casa do Oliver Gordon em Kufstein – Áustria, e estava lá o Hélder Lima(Ed). O que foi alta cena tanto para mim quanto para ele porque já não nos víamos a imenso tempo e estávamos ali na casa de alguém que eu acabara de conhecer. Depois em casa do Rui Major e Marta Viana em Salzburgo. Com o Tiago Lopes, André Costa(Def), Pedro Dylon foi em Praga-República Checa no Mystic Cup. Com o Bruno Bp, Jorge Simões, Francisco Lopes(França), Afonso Nery, Nuno Cardoso, Felipe Cordeiro, Pedro Roseiro em Amesterdão no Amsterdam Am. Com o Ruben Rodrigues, Lais Reis, Thaynan Costa, Rodrigo Albuquerque foi em Copenhaga; Isso a contar apenas com o pessoal do Skate.

Esta viagem proporcionou-te muitos momentos de solidão? Como lidaste com essa sensação?

Nem por isso. Já dizia o mestre: “Se te é impossível viver só, nasceste escravo”.- Fernando Pessoa. Deixei de o ser quando aprendi estar comigo mesmo.

Consideras a viagem que fizeste perigosa?

Se não considerasse acho que não teria piada. “Não há realização nas coisas fáceis. Mas nas difíceis, o amor da conquista.- Fernando Klewys.

Se alguém tem a mesma ideia, que tu acabaste de concretizar ,que conselhos podes dar?

Há imensas pessoas a fazerem o mesmo. Mas fazem na altura do verão. Durante o inverno não haviam pessoas a viajar a boleia. Era tudo meu! No verão? Pareciam formigas nas estradas e áreas de serviço. Conselhos? Hmm… Viajar a boleia é algo muito especial. Aprende-se a cada boleia algo diferente. E a cada diferença, um novo aprendizado. Não é algo que se dê conselhos. Não se faz matemática com amor e nem se aprende sentimentos com conselhos.

O que tiras de melhor e de pior desta viagem?

As pessoas que conheci, e que marcaram e marcarão para sempre minha vida. Não vejo nada de pior. As coisas menos boas existem e acontecem com o intuito de ensinar-nos algo. E quando estamos abertos a isso, as piores no fim são por vezes as melhores. Porque aprendemos com isso.

E agora que estas de volta, o que vais fazer? Vais voltar à rotina?

Tenho de arranjar um trabalho por alguns meses para concretizar o próximo projeto. Mas pretendo estar longe da rotina. Não digo que seja de todo mal seguir uma rotina, mas quando se vive numa rotina e não se tem controle sobre ela, é ela que nos controla a nós. E acabamos assim por virar robôs.

Queres voltar a repetir esta aventura, se sim para onde?

Repetir esta viagem não. Foi algo muito especial e quero manter isto guardado no meu peito. Tenho outras ideias para viagens/aventuras e isso. Mas não pretendo cair num clichê nem estragar a essência do ano que tive.

Queres acrescentar algo a essa entrevista?

Se eu tiver de acrescentar algo gostava de dizer aos senhores políticos, que tirassem do ordenado deles, em vez de tirar do bolso do povo. E dizer ao povo para deixarem de dizer que esta tudo mal e correr para o café beber imperial e comer tremoços. Deixem-se lá de novelas e revistas de moda etc. Vão alimentar o vosso cérebro. Informação é poder. É o governo que depende do povo, e não o contrário. Vejam lá por exemplo a Suécia: Um país onde os políticos tem um ordenado fixo, não há carros particulares e vão de transporte publico para o “trabalho”. E não é um país pobre e nem lá estive para poder ver isso, o que não me faz nada diferente da maioria de vocês. Ainda no outro dia vi no telejornal a dizerem que o défice publico e corrupção em Portugal vai aumentar. Reparem bem. Estavam a dizer que a corrupção vai aumentar. Mas o que vem a ser isso? Um aviso de: preparem-se para serem ainda mais roubados?

Gostavas de agradecer alguém?

Quero agradecer a todos os que me ajudaram durante o ultimo ano, direta ou indiretamente. Aqueles que me deram comida e lugar para dormir. A todo carinho e amor que depositaram em meu coração. Por me terem ajudado a descobrir a pessoa que sou, e por toda inspiração enquanto ser humano… gostaria de citar nomes, mas são muitos, e tenho medo de esquecer de algum.

Comentários

4 comentários a “Fernando Klewys | Um ano a viajar à boleia pela Europa sem dinheiro”

  1. Flávio Aguiar diz:

    boas Fernando . vc é o cara . fiz uma parecida , mais a sua foi a verdadeira viagem, paz e feliz 2014 . saudades

  2. diego fiorese diz:

    PArabéns irmao pela entrevista, viagem fodassa!!!

  3. fátima diz:

    Louvável a sua atitude de iniciativa e coragem. É um verdadeiro guerreiro! Bem Haja! Desejo-lhe muito sucesso no seu percurso pessoal e profissional. Muitos Parabéns!!!

  4. Hi there @ onsk8 ! Could anyone please translate the whole Interview into English, so that most of us could read too? I Know it´s a lot of work, but i (and i think others too) would appreciate it that much. Thx