A 3ª Etapa do Nacional em Aveiro ficou marcada pelo facto de até ao cair do último Best Trick ainda não se tinha a certeza de como iria ficar o podium no Open. Dias 18 e 19 de Junho a cidade de Aveiro recebeu os cerca de 100 Skaters que fizeram parte de mais um campeonato de Skate num país com uma história de Skate que faz inveja a muitos outros. Somos pequenos mas somos Grandes. Aveiro foi palco de vermos um nível cada vez melhor do feminino e uma óptima final no Open. Numa tarde em que a final aconteceu e não foi cancelada como o ano passado o foi por motivos de chuva. São Pedro esteve de folga nesse dia, mas o vento forte fez-se sentir e que por vezes, influenciou as manobras no Open.
Pese embora se tenha sentido que era um dia de finais “às moscas”, durante a parte da tarde mais público resolveu aparecer, mas ainda assim, não aquela quantidade de pessoas que em tantos outros campeonatos noutros tempos se fazia sentir. Acredito que o Comité de Skate tenha em atenção este facto, uma diminuição quer de participantes, quer de público. É sabido que a polémica que se gerou com a final europeia de 2021 e as notas dadas pelo painel de júris a Skaters de peso e outros desconhecidos originou uma contestação e um “boicote” por parte de algumas pessoas que mostram o seu desagrado em não aparecerem mais. A 1ª Etapa em Ramalde tirou mais alguns Skaters e nesta fizeram-se sentir ainda menos concorrentes. Ainda assim, a opinião geral é que o júri tem estado mais afinado nas notas embora, naturalmente, também mais exigente com a performance dos Skaters. Ou seja, o júri procura mais nível e por isto obriga os Skaters também a “step it up” nas manobras. Alguns “deslizes” na pontuação de alguns toques aqui e ali, mas no geral, as pontuações foram adequadas. Ainda assim, para alguns Skaters ali, pode ser provável que seja a sua última participação por se sentirem injustiçados com as notas que receberam. Muitas vezes não é o contestar da nota em si para determinada manobra, mas sim quando comparada com a de outros Skaters. Mas calma, não é fácil ser júri, nunca o foi, e, nos dias que correm, com uma evolução galáctica do nível de Skate a nível global, não é um lugar aprazível de se estar, é trabalho duro e obriga a ser-se minucioso de uma forma diferente de outros tempos. E isso acarreta ser-se o “mau da fita”. Para grandes poderes, grandes responsabilidades também.
Uma das características mais assinaladas nesta 3ª etapa foi a alteração de algumas regras de pontuação, que vieram directamente da World Skate naturalmente, o organismo regulador do Skate mundial. As pontuações passam a ser de 1 a 100 pontos ao invés dos habituais 1 a 10 (como se chamará agora um 9 Club? Será 90 Club? Esperamos um nome original) e dos 5 Best Tricks, ao invés dos 3 melhores contarem para pontuar, apenas 2 passam a contar.
Deixa-se no ar é porque é que o tempo começa logo quando o relógio arranca e não apenas quando é dado o primeiro Ollie. Talvez possa fazer sentido.
No que respeita à música, esta esteve bem melhor e mais adequada, prova que a Liga quer melhorar e com uns afinanços aqui e ali, a pouco e pouco, as coisas vão-se organizando melhor. Assim todos esperam de certeza.
Quanto às provas em si, os mais pequenos andam cada vez mais e melhor: Destaque merecido para o Jules que evolui a olhos vistos, para o Dom Vianna que só tem 185 mil seguidores no Instagram (!!!) e parte a loiça toda tendo sido o justo vencedor e para o Tomás Godinho sempre consistente e a evoluir cada vez mais, sem mãos a medir. Os putos daqui a uns anos não dão hipótese. A continuarem assim…
No feminino, há que salientar a Maria Rodrigues com o melhor Flip da Liga taco a taco com a Margarida Cepeda, esta que foi a vencedora indiscutível desta etapa; a Matilde Ribeiro que evolui cada vez mais e melhor a olhos vistos (queremos ver aquele Flipaço do Table Top para o Bank que estava lindo! Bora lá Matilde!); e a própria Margarida Cepeda que em directo para a Sport TV na sua entrevista de vencedora, lhe escapou um palavrão tal era a excitação da vitória mas cujas runs e best tricks foram consistentes e arrojadas (faltou o Nollie Back Heel no Euro Gap que tantas vezes praticou nos treinos e que não foi tentado na prova! Bora lá dar isso na próxima Margarida!). A 3ª posição ficou para a Skater Inês Rodrigues que passo a passo, de forma subtil e humilde, arriscou alguns toques, foi pontuando, pontuando, pontuando, e leva para casa o 3º prémio. É a prova que só é preciso mesmo pontuar e ter-se alguma estratégia, não dar grandes manobras por aí além.
No geral, e agora dando um cunho pessoal aqui, nota-se que as raparigas necessitam de mais estratégia nas runs e na escolha de manobras. A titã Rafaela Costa A.K.A. Rafinha e a Maria Alves foram as grandes baixas desta final, a primeira admitindo que não lhe correu bem e por isso não foi à final, mas sempre com positividade e falando bem, afirmou que ficava a assistir de perto à performance das suas colegas / amigas e que as aconselharia da melhor maneira (muitos Skaters têm a aprender isto ainda infelizmente, por isso, boa Rafinha, é isso mesmo, mostra como é que se é Skater); e a Maria, que levou com um Skate no tornozelo com tal força que a tirou da competição. As lágrimas e desapontamento fizeram-se sentir. As melhoras Maria Alves!
Quanto ao masculino em si, destaque para o melhor kickflip do mundo, o monstro Gabriel Ribeiro que cheio de Syle, motivação e manobras do outro mundo, levou a melhor. Gabriel que estava encaminhado para ganhar mas que passou de repente para meio da tabela com uma falha ou outra mas que no fim recupera e vence com um Tre Flip Nose Slide no Curb a direito que acimentou a sua vitória. Mas não sem antes, na minha opinião, de abrir a boca e pedir para ele não parar de dar aquilo, foi um Frontside Blunt Slide no Kinked Rail do início ao fim e a sair de Ollie, Ollie mesmo, um popzaço incrível. “Coisa linda” como diria o Tomás Fernandes. Era aquilo em loop o dia todo.
Habituadíssimo ao pódio foi o 2º classificado, Bruno Senra AKA BP e actual 1º lugar no Ranking, que, abuso atrás de abuso, como sempre nos habituou, andou a um nível gigante mas não foi o suficiente para abalroar Gabriel Ribeiro. De destacar dois toques que não nos cansamos de ver pela parte do BP, o seu incrível Ghetto Bird e o seu Frontside Flip brutal à Pro que não deixam ninguém indiferente.
O 3º lugar ficou para o veterano em campeonatos e estratega Roger Silva que sabe o que o júri espera ver, e este, de forma inteligente, entrega. Muita manobra de Nollie e Switch como nos habituou desde sempre, mas destaque para alguns toques diferentes, entre eles, um Nollie Heel Crooked Grind no Curb, entre outros toques de Flip com que nos presenteou e com manobras “fora da caixa” que não estamos habituados a ver por parte do Skater em questão. E se por acaso alguma vez achaste que o brasileiro da Jart não anda bem, pensa outra vez e abre a pestana. Um 3º lugar merecido.
Um 4º lugar para um Madu Teixeira que não estava satisfeito com a sua pontuação depois de um Frontside Nose Slide Nollie Big Spin Heel Flip Out e bem dado que lhe valeu uma nota na casa dos 60 pontos. Se os Skaters do Norte como o Pedro Abreu, Madu e Pacal se sentem normalmente mal pontuados, esta especificamente não ajudou de todo.
E por falar em Pedro de Abreu, destaque para toques “coisa linda”, Slidezaços de 3 metros a sair de Flip e Heel Flip, que, com um sorriso nos lábios e com a sua boa vibe de sempre, fez as delícias do público e dos restantes concorrentes. Mas Abreu não esteve de todo satisfeito com algumas das suas notas e manifestou o seu desagrado verbalmente por várias vezes. Alguns Skaters já manifestaram o seu desagrado de outra forma que é mais efectiva infelizmente, porque quem perde é a Liga, e deixam simplesmente de aparecer por pontuações que consideraram injustas, que foi o caso do Daniel Santos na Etapa de Ramalde, o Daniel Ferreira e o Pedro Fangueiro da Póvoa que nunca mais apareceram e o Luís Rodrigues de Braga que depois da etapa de Lisboa o ano passado, saiu amargurado e não voltou mais. Nunca mais os vimos. Esperamos que o Pedro, Madu e Pacal não tenham a mesma atitude para bem de todos e do Skate nacional. Empobrecemos sempre que alguém deixa de aparecer e esperamos que a Liga reflicta sobre estas situações com profundidade para não deixarem fugir os Skaters.
Na esperança que a próxima etapa tenha mais público, tenha melhorias a nível organizacional e que a música se mantenha como nesta, vamos ver o que futuro nos reserva. Até lá, sejam melhores uns para os outros.
Comentários