João Maria Girão é uma referência no mundo da música electrónica em Portugal, não só como artista mas também como empreendedor. Antes da música João já mostrava muito talento tanto no skate como no surf, sendo um dos destaques de uma das mais marcantes gerações de surfistas algarvios, na companhia de nomes como João Mealha, Badoga, Miguel Neto, Pargana, Valagão, Fernando Fontainhas, Didi, Estaca, entre outros. Recentemente este embaixador da marca RVCA juntou-se à 58 Surf para organizar um evento que junta o surf, skate e a música e promete dar que falar. Fica a saber um pouco mais sobre João Maria Girão e os seus projectos…
Sabemos que tens uma longa ligação tanto com o surf como com o skate, fala um pouco sobre as tuas origens…
A minha relação com o surf e com o skate começa desde que me lembro de ser alguém. Quando era muito miúdo comecei a skatar com os meus amigos, em Faro. Tínhamos um grupo grande, era uma cena mesmo old school a descer grandes avenidas e a fazer alguns truques da altura. Passávamos a vida a ver filmes de skate, e depois íamos para a rua tentar fazer a mesma coisa. Depois disso, lá para os meus 11/12 anos, entrei a fundo no surf, também com esse grupo de amigos. E nunca mais parei. Aí larguei um bocado o skate, passei a surfar todos os dias e fiz algumas competições, os esperanças da Lightning Bolt e alguns nacionais.
E quando voltaste ao skate mais a sério?
A certa altura fui para Londres, por volta de 97, e aí dediquei-me completamente ao skate de uma forma que nunca tinha feito antes. Tive a sorte de partilhar uma casa com o Jocke Olsen, quando ele ainda competia em vert. Evoluí bastante com ele na cena da mini-rampa e half pipe pois durante os 5/6 anos que tive em Londres skatava todos os dias. Cheguei a entrar num campeonato nacional que houve em Lisboa e ganhei nos amadores e o Gui (Rodrigo Pimentão), um dos meus melhores amigos, ganhou os profissionais.
E a música, quando surgiu?
Ainda enquanto estive em Londres, na mesma altura em que me agarro ao skate, agarro-me à música. Antes de ir tinha tido uma banda de punk rock, e quando lá chego comecei a sair mais à noite e a ir a clubes ouvir DJ’s a tocar. Depois conheci uma espanhola que era DJ e que me ensinou a tocar, comecei a tocar música e nunca mais parei. E foi assim, o surf, a música e o skate são a minha vida, sempre foram desde criança e felizmente tenho a sorte de aos 45 anos viver de tudo isto.
Como foi o processo até à música se transformar numa profissão para ti?
Entre 98 ou 99 consegui a minha primeira residência em Londres, tocava todas as semanas lá num clube e nunca mais parei. Já em Portugal, no início dos 2000, comecei a tocar um bocadinho por todo o país. Na altura havia uma promotora e editora de discos, que era a Kaos e era gerida pelo António Cunha, que já faleceu, e ele começou-me a convidar para tocar nos eventos deles e na Kadok, que era um dos melhores clubes a nível nacional. A certa altura, percebi também que a minha vida poderia mesmo passar pela música a nível profissional, mas também percebi que tinha que fazer mais coisas à volta disto, dentro da indústria da música e não ficar só pelo DJing, porque sempre foi difícil viver só disso. Há poucos artistas em Portugal que conseguem viver só a pôr música se realmente quiserem ter uma vida estável, que era o que eu queria, e comecei a procurar dentro da indústria outras coisas para fazer. Comecei a organizar festas, a fazer bookings para festivais e para clubes e a contratar artistas estrangeiros e nacionais para tocarem em festivais e clubes. Criei editoras, montei lojas de discos, programas de rádio… Acho que já fiz um bocadinho de tudo dentro da indústria da música, mais especificamente da música electrónica. E continuo a fazer, na verdade é o que me dá pica. Tem sido uma viagem grande, uma experiência de altos e baixos mas, ao mesmo tempo, muito completa e que me preenche bastante. Tenho muito orgulho em dizer que vivo da música.
Como surgiu o espaço Collect?
A Collect nasce de um sonho, juntamente com o meu irmão Bernardo e com a Mariana Barosa, de criar uma estrutura onde pudéssemos trabalhar os três juntos a fazer aquilo que mais gostamos de fazer na vida. O meu irmão mais na restauração, área onde trabalha há muitos anos, e eu e a Mariana dentro da música. São 20 e tal anos nessa área, a fazer um bocadinho de tudo, e pensámos que estava na altura de criar o nosso próprio espaço, onde pudéssemos por em prática a nossa experiência. Quisemos criar uma marca, a Collect, e um conceito e tivemos a sorte de ter a possibilidade de agarrar este espaço no Cais do Sodré, onde antigamente era o restaurante duplex. Aqui dentro temos restaurante, bar, loja de discos, fazemos rádio online e um livestream de segunda a sexta. Vêm tocar bandas e temos DJs todos os dias, de segunda a segunda, não fechamos nenhum dia. É mais um sonho que foi para a frente e que, felizmente, mesmo com a pandemia e tudo mais, conseguimos dar a volta e está a correr bem.
Fala um pouco sobre o evento Collect Culture 58 Surf Edition…
A Collect é um spot que acaba por ser um ponto de encontro para artistas e muitos destes artistas estão ligados também ao skate e ao surf. O pessoal que vem cá é malta da música, portanto respiramos muito isso aqui dentro. Daí até ter pensado num evento que esteja ligado aos três foi muito rápido. É algo que eu tinha já pensado na minha cabeça há alguns anos e em conversa com o Pedro Soeiro Dias (director de marketing da Despomar), quando ele me quis apoiar com a RVCA, comecei-lhe a falar desta minha ideia, do que eu gostava de fazer, e ele achou perfeito e pois era algo que já queriam fazer e fazia todo o sentido com a 58. A RVCA vai estar a apoiar o evento do surf, o Single Fin Ahead. O evento começa na Praia de Ribeira D’Ilhas, por volta das 10:30 e vai ser uma coisa completamente descomprometida, em que as pessoas vão para dentro de água surfar de single fin e dar azo à imaginação. O critério de avaliação vai ser o style, aquele que se adaptar melhor a esse tipo de surf vai ser o vencedor mas, na verdade, o importante é irmos todos para dentro de água e estarmos ali a viver um grande momento. A partir das três da tarde vamos para a 58, onde temos um evento de skate com o Gustavo Ribeiro, o Skate Jam – No Push Lines, que também vai ser brutal porque ele vai convidar alguns amigos para disputarem o best trick nos bancos de cimento que vão ser criados. E depois temos dois palcos de música, um no relvado, e outro no primeiro andar, numa varanda a dar para o mar, que é uma coisa brutal, com uma vista incrível. Temos na parte de baixo, onde vai ser o palco principal, bandas, que vão desde o disco ao soul, funk, hip hop, e temos os slum village, que é uma banda icónica de hip hop de Detroit, que são os cabeça de cartaz deste evento. Vai ser uma cena muito especial. Será das 3 da tarde às 4 da manhã, uma granda festa com bares e food trucks, tudo muito bem organizado e será com a mesma equipa de produção que uso para outros eventos e festivais que produzo. Vai ser uma coisa mesmo à séria, muito bem organizado, um evento para ficar.
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