Quando eu era puto, sempre fui, entre tantos outros de certeza, confrontado com a observação cruel “o quê, ainda andas de Skate? Isso é para putos.” Hoje, vejo os meus amigos a viverem do Skate nas suas mais variadas formas, ora porque se tornaram profissionais, ora porque conseguiram contratos com marcas e com isso pagam as suas contas, ora porque são bons filmers, ou fotógrafos ou mesmo professores de Skate.

Hoje dá-me vontade de esfregar na cara desses atrasados mentais que outrora vomitaram verborreias idênticas às que acima especifiquei, e dizer-lhes “Vês? O teu trabalho, que tu odeias, das 09h às 18h e nós, porque seguimos um sonho em que tu e tantos cuspiram em cima, vivemos disto, de um brinquedo. E agora? Ainda gozas?” Mas não. Só dá vontade. Não o dizemos. Porque “os cães ladram e a caravana passa”. E como somos muito melhores do que isso, a nossa reacção é “cala-os com o teu sucesso”.

Acredito que o Gustavo tenha passado em parte por isso também. Mas passando ou não, uma coisa é certa: muitos ficam sentadinhos no sofá à espera que as oportunidades surjam e lhes caiam ao colo e outros, trabalham arduamente e com uma disciplina de samurai para chegarem mais longe e concretizarem os seus sonhos. O Gustavo é um deles. Nesta entrevista caiu-me um pouco a ficha, confesso. O miúdo com quem passei 4 dias em sua casa em Fevereiro deste ano e que me recebeu com amor e carinho, que tantas vezes jurei em campeonatos e que tantas vezes entrevistei no FuelTV e que ainda se atrapalhava um pouco com as câmaras e com as palavras, é hoje um homem com um discurso cuidado, palavras certas e inspiradoras não só para os seus pares como para todos os miúdos que sonham um dia serem alguém no que quer que seja, não necessariamente no Skate.

Era fácil, para muitos, sucumbirem à fama e ao estatuto de se ser um dos melhores do mundo. Do mundo. Interiorizem bem isto: do mundo. É ser-se muito grande. Mas o Gustavo não sucumbe e sei do que falo. Dono de uma disciplina de treino e de uma consistência de hábitos robustos, não é só merecido ele ter chegado aqui, é o Universo ter cumprido o seu propósito. Uma pessoa sempre disponível para os fãs, sempre pronto com um sorriso, uma pessoa generosa com todos, e um homem que sabe onde está, que é bom, mas que ainda está longe do topo.

É é assim que se evolui. O topo de uma montanha é o início de outra. E este espírito é invulgar nos dias de hoje, porque todos queremos tudo rápido, queremos o overnight success. Mas isso não existe. E por trás deste boné da Redbull e de um contrato que pode pagar um carro com um mês de salário, estão milhares de horas de trabalho a fio em cima de uma tábua. Muitos aqui em Portugal têm o nível de Skate necessário, mas será que têm esta conduta de trabalho árduo e uma quase “obsessão” em não se contentarem em falhar? Duvido. E pelo bem desses, oxalá me engane. Até lá, que o Gustavo aproveite a viagem. Não passa de uma pessoa, não é um herói, mas caramba, é que puto muita fodido.

Obrigado por tudo Gugu, obrigado pelas emoções fortes e acredito que não seja o único a agradecer-te por isso!

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