Um dos nossos objectivos na ONSK8 não passa apenas por relatar notícias nacionais ou internacionais do Skate e fazer reviews sobre uma videopart, repetindo como papagaios aquilo que foi dito inúmeras vezes por todos os meios de comunicação de Skate quando alguma notícia sai, seja ela de que natureza for. Uma das linhas com que nos pautamos e que nos permitem ter essa liberdade na ONSK8 é a de podermos escrever de forma pessoal, logo, dentro da nossa perspectiva que é apenas nossa e pode ser muitas vezes limitada e/ou até errada, mas acima de tudo, sendo Skaters, e os Skaters sendo pessoas extremamente opinativas, dar opiniões sobre o que se passa com o Skate, e mais acentuadamente, o que se passa com os “nossos” Skaters.
E é a partir daqui que desenvolvo uma reflexão sobre a saída do mágico Tiago Lopes da Sk8 Mafia. O copy do Tiago no seu Post de Instagram foi curto. Pode não ter razão de ser, mas até pode ter sido só uma cortesia e não querer desenvolver muito sobre a sua saída. Uma coisa é certa, nem sempre o que mais desejamos é o melhor para nós. E a história da vida dá-nos sempre respostas. O sonho do Tiago, que conheço desde que eu ainda tinha cabelos pretos, era conhecer o Wes Kremer, esse prodígio simpático e um mestre no Skate, e fazer parte da Sk8 Mafia. Trabalhou, esmerou-se e conseguiu. Mas o Tiago, “infelizmente”, tinha um grave problema, nasceu português e não americano. E, algo é certo nesta indústria que se assemelha a muita outra, mas que nós achamos ser diferente, é que tens de te dar com as pessoas “certas” e nascer no país “certo” para poderes vingar mais cedo ou mesmo apenas vingar e conseguires chegar lá. Afinal, a indústria que decide com mais força está toda sediada nas marcas americanas em solo americano com cidadania americana. Ou o pessoal do Skate acha que os canadianos Ryan Decenzo ou Mark Appleyard ou o Colombiano David Gonzalez trabalharam o mesmo que um Zion Wright ou um Trevor Mclung? Esqueçam, tiveram de se esfalfar, de esgravatar, de rastejar, trabalhar 100 vezes mais do que qualquer outro Skater americano para virem a ser Pros. E os americanos sabem disto, usam e abusam deste “privilégio” para poderem manter todos os estrangeiros no fundo do poço.
O nosso Tiago é apenas mais um. Infelizmente. Dono de um Skate único e de uma perspectiva única em toda a história do Skate mundial, o nosso wizard não chegou a Pro. Pelo menos não pela Sk8 Mafia. Porquê? Porque não quiseram. Repito: não quiseram. Eles não quiseram. É simples, enquanto serves o propósito de lhes dares visibilidade, eles usam-te. Mas regarem-te enquanto ainda és uma pequena semente, nem por isso. E quando não serves mais, reciclam-te de forma cínica: agradecem-te por tudo e fecham-te a porta na cara. É a Máfia do Skate, mas talvez apenas estes digam mesmo que são a Sk8 Mafia. Mas mafiosos são quase todos. Não passas de um produto e serás usado como tal.
Não te iludas. Quando uma marca pede as filmagens a um filmer português para usar a título gratuito sem pagar a esse filmer e acha esse pedido a coisa mais natural do mundo e ainda afirma “Yo, Bro, this is for the brotherhood of Skateboarding”, está tudo dito. É difícil assim. Ou vocês acham que o Gustavo Ribeiro se tivesse saído do Jart para uma Plan B ou uma Primitive era Pro na altura que foi? Jamais. Olhem o caso do Jorginho, esse mais do que Pro As Fuck, sai da Jart apesar de ter uma proposta da marca para ser Pro (porque nos States a Jart é híper mal vista apenas porque, bem….., não é americana) e vai para a Real, mas a Real não gosta, é apenas mais um amador afinal. Eis que segue o seu caminho para a Plan B e onde ainda é…. claro, um amador.
Porquê? É português. Há muito americano para entrar à frente dele. Mas voltando ao nosso Tiago: é apenas mais um exemplo de mais um gigante que até agora se viu confinado num lugar demasiado pequeno para ele com promessas vazias que “bro, vai acontecer, dá-nos apenas tempo e lá chegarás”. Até à exaustão, até ele desistir e ver que o caminho não será por ali. Para mim, eles sabiam que nunca iriam passar o Tiago a Pro, apenas esperaram que fosse o Tiago a aperceber-se disso porque não tiveram quilhos grandes para lhes dizer o óbvio. Passamos a vida a ser enganados e ludibriados pelos nossos pares que dizem ser do Skate e agir a nosso favor. Total bullshit. Nem sempre ser do Skate significa que estamos bem entregues. Fiquei com uma sensação de tristeza ao ler aquele Post e pensar “fodassss mais um que é deixado para trás”.
Acho que a maior reflexão aqui é que para chegares onde muitos estão, não podes contar apenas com o teu Skate, há muitos factores à frente, a tua vibe, cumprir horários, dares o máximo sempre, e nomeadamente, por mais incrível que pareça, de onde vens e o quanto vais vender. Skate Skate, mas Money Money, ah pois.
Quanto ao Tiago, que ele encontre uma marca que ele mereça pelo Skate único e deslumbrante que tem. Aqui deste lado Tiaguinho, podes ter a certeza, nós não dormimos e torcemos por ti e pelo teu futuro.
Comentários
2 comentários a “Tiago Lopes sai da Sk8 Mafia”
Não conheço os enredos desta “indústria”, mas há muito pro brasileiro a andar para as grandes marcas norte americanas. Existe preconceito e claro não me surpreende nada que o David Ganzalez ou Many Santiago tivessem que trabalhar o triplo para serem pro. Quanto aos canadianos, acho que é tudo farinha do mesmo saco. Talvez o Brasil tenha um mercado maior comparado com a Colômbia ou Porto Rico ou Portugal.
Então continuemos a vestir marcas americanas da cabeça aos pés e a gastar milhares de euros durante a nossa vida para alimentar essas empresas multimilionárias… Sejamos mais unidos como são os brasileiros.. podemos produzir tênis pra andar de skate, criar as nossas próprias marcas de roupa, shapar, as nossas tábuas… Temos o exemplo da Jart… Começou ali no País Basco e pouco a pouco ganhou o seu estatuto… Ainda por cima em Portugal temos uma mais valia: a nossa mão de obra de qualidade. Precisamos de mais skaters com espírito empreendedor…