O João Santos vive literalmente no meio das couves! Não estamos a brincar, este skater vem de uma pequena aldeia à “beira mar plantada”, entre Peniche e a Lourinhã.
O skate é algo que está quase sempre associado aos meios urbanos, mas este skater como já referimos vem de um meio rural, onde as coisas não são tão acessíveis e simples como numa cidade. Mas a verdade é que não é por ser de um meio pequeno que este skater conseguiu o seu lugar e respeito, e para nós foi gratificante retratar uma outra realidade oposta daquela com que lidamos diariamente.
As imagens desta entrevista são alguns dos melhores spots que existem na zona e longe de terem o chão perfeito, o “curb” de mármore etc… mas este skater tirou o melhor partido possível deles. Não vais ver imagens com grandes obras arquitectónicas em fundo, vais ter a realidade deste skater.
Logo depois de gravarmos a sua entrevista, o João foi mais um skater nacional que arrancou para outras paragens em busca de melhores condições. Da nossa parte resta fazer um agradecimento por esta entrevista e desejar boa sorte nesta nova etapa.
A primeira questão antes de grandes conversas, tem a ver com quem é o João Santos e de onde vens?
Sou o João Santos, tenho 22 anos, venho de uma aldeia chamada Geraldes, que fica entre a Lourinhã e Peniche.
O que tu fazes da tua vida actualmente?
Actualmente o que faço da minha vida é andar de skate. Acordo de manhã e vou skatar… venho almoçar e a seguir mais skate! Está muito complicado por cá arranjar um emprego, até agora tenho tido a minha vida facilitada graças à minha família, mas não pode ser sempre assim. Até hoje e deste que terminei o 12º ano só tenho andado de skate.
Como é que a tua família te encara perante o skate?
Nos primeiros tempos foi complicado, pois para andar de skate gastava algum dinheiro e acho a reação deles normal, provavelmente já muitos passaram por isso.
Mas desde que comecei a ter alguns apoios e patrocínios, embora nenhum deles envolve um ordenado, e também a obter bons resultados em competições, começaram a encarar o skate de uma melhor forma. Hoje em dia eles entendem que é disto que eu gosto realmente e apoiam-me.

Pivot Fakie
Todos te conhecem como o João Santos da Lourinhã, mas tu não és mesmo da Lourinhã. Tu vives em Geraldes, uma pequena localidade do concelho de Peniche que já é distrito de Leiria. Como é que explicas que te conhecem como o João Santos de uma terra que já é do distrito de Lisboa!?(risos)
Como já expliquei, eu vivo numa aldeia que fica entre Peniche e a Lourinhã e que fica mesmo no limite entre os dois distritos. Mas onde eu comecei a andar de skate foi na Lourinhã no skatepark. Os meus amigos com quem comecei a skatar nessa altura são da Lourinhã, e quando comecei a ir a campeonatos todos me começaram a conhecer como o João Santos da Lourinhã. Além disso o skatepark da Lourinhã é o meu park favorito e é lá onde ando quase todos os dias. Acho que enumerei vários motivos pelos quais todos dizem que sou o João Santos da Lourinhã.(risos)
Então e onde vives como são as coisas por lá?
Geraldes é uma aldeia a escassos metros do mar e é conhecida como a terra da ciência. Aquilo por lá é só “cientistas”(risos). Além disso quase que só há velhos e não se passa nada!
Explica como é viver num lugar onde quase não há spots e os que há o chão é péssimo. Como é que lidas com isso?
É horrível! Temos mesmo poucos spots, e os que há eu tento tirar o melhor partido deles uma vez que alguns são muito agressivos. Já corremos tudo o que há aqui à volta e há mesmo muito pouco por onde skatar, e onde há spots tento tirar o melhor partido deles como vão poder ver nas imagens desta entrevista.

SW FS Flip
Como é que é um bom dia para ti?
Um dia bom para mim é acordar relativamente cedo tipo 9 ou 10 da manhã e ter logo companhia para skatar… mas num ano isso acontece umas duas ou três vezes. No fundo um bom dia para mim é ter companhia o dia inteiro para skatar, normalmente o pessoal aparece a maio da tarde quando podem aparecer.
Quem são os teus amigos da skatada e quais os vossos lugares de eleição?
Os meus amigos da skatada são os mesmos de sempre, os da Lourinhã e os de Peniche. Principalmente o Miguel e o Kiril que foi a quem eu me juntei quando comecei a skatar. Mais recentemente tenho também skatado muito com João Diogo, Tiago e Petro e o Sérgio de Peniche que também é que me tem ajudado a filmar as minhas manobras.
Quais são as coisas boas e as menos boas de se viver num “meio” pequeno?
As coisas boas sem ter a ver com o skate é sem dúvida o mar e poder viver à beira dele.,
As menos boas como já disse é mesmo os spots que não são bons, e também a mentalidade das pessoas, pois o skate é algo que não faz sentido na cabeça delas… já cheguei ao ponto de refilarem comigo por estar a andar na estrada, pois para essas pessoas o skate estava a dar cabo do alcatrão.
Se por causa de uma estrada algumas pessoas são assim, falando de spots as coisas são ainda mais complicadas.
Mesmo assim aqui tenho tudo o que me faz falta, apesar de ser complicado para skatar, gosto muito de onde vivo.

SW Crooked
Sentes te de alguma forma que perdes por viver aqui, ao invés de viveres numa cidade?
Talvez no que diz respeito a spots pois como é óbvio numa cidade existem em grande quantidade e diversidade.
Mas falando por mim, se nos aplicarmos e dedicarmos ao máximo, e conseguirmos ir ao máximo de competições para que reparem em nós, acho que as coisas também se podem proporcionar. Resumindo no meu ponto de vista é mesmo isso, para mim o mais complicado de estar aqui é mesmo não haver spots suficientes e decentes para skatar.
Achas que há alguma coisa que se pode fazer para dinamizar mais o skate nas zonas que não são tão urbanas?
Sim acho. Acho que o mais importante é criarem mais estruturas nos locais onde elas não existem, ou então como o caso aqui de Peniche que até tem um skatepark, só que há é muito antigo. O seu estado de conservação está para lá de mau, e já merecia um park novo.
Do pouco que sei e do que vejo, estão a canalizar muito para o surf e se eles pensarem bem, os surfistas, muitos deles também andam de skate. Muitos deles vão de Peniche à Lourinhã para skatar porque este park já deu tudo o que tinha para dar.
Assim como noutros locais onde já perceberam que um skatepark junto a uma zona de ondas boas atrai muitos surfistas, acho que aqui é o lugar onde isso faz mais sentido, quanto mais depressa fizerem um bom park atualizado e bem enquadrado mais depressa o vão ver cheio de skaters locais e não só.

SW Heelflip
Certas oportunidades tens de ser tu a criá-las e não estar à espera que elas venham ter contigo. Concordas com esta frase?
Sim concordo. Especialmente em certas coisas como o caso de não ficarmos à espera que venham falar connosco para irmos filmar e fotografar. Acho que isso também tem de partir de nós que vivemos nos meios mais pequenos, se as coisas não veem ter connosco se calhar temos de ser nós a ir ter com elas, porque também acho que não se pode exigir demais para zonas onde não se passa nada.
Todos te conhecem como o homem do switch. Podes explicar isso?
Acho que todos sabem o verdadeiro motivo que é o Paul Rodrigez. Andar com a base trocada, foi algo que sempre me motivou,. E para mim sempre me motivou dar as mesmas manobras tanto no stance normal como de switch, e tento ao máximo ser o mais consistente possível.
Como é óbvio a próxima resposta, parte dela já está respondida, mas quem é para ti o skater internacional e nacional que mais admiras?
Internacional é o Paul Rodriguez, tanto como skater como pessoa. É sem dúvida a minha maior inspiração. Mas tenho outros como o Nick Tucker ou o Bob Burnquist e o Danny Way este último também pelo seu documentário o “Waiting for Lightning”.
A nível nacional o skater que mais admiro sempre foi o Ruben Rodrigues. Lembro me de chegar a casa dos primeiros campeonatos e dizer que estive a falar com ele. (risos) Também gosto bué de ver o Jorginho a skatar.

Heelflip
Esta conversa está a ter lugar no último dia que estás em Portugal, e amanhã arrancas para uma nova etapa da tua vida. Queres falar um pouco disso?
Tenho de ir viver para fora, por causa do problema que muitos atravessam no momento. Não consigo arranjar um trabalho para me conseguir sustentar.
Não vou deixar o skate como é óbvio mas vou à procura de mais e melhores oportunidades. Vou viver para Inglaterra, para perto de Londres.
Felizmente já tenho emprego quando lá chegar, vou mais a minha namorada e essa parte já está resolvida pois já temos lá parentes a viver.
Vou ter um bom horário, o que me vai permitir ter tempo para skatar 5 a 6 horas por dia. Deixa ver como as coisas correm…
Essa ida para Inglaterra é de carácter definitivo, ou é algo temporário enquanto as coisas por cá não melhoram?
Isto por cá tá bué mau. Por isso para já a minha ida não tem um regresso definido. Quero regressar a Portugal nas férias como é óbvio.
E que outros planos tens para o ti?
Actualmente não penso muito isso, pois neste momento estou a entrar nesta nova fase da minha vida. Espero apenas daqui a um tempo arranjar um emprego melhor que este que me espera quando lá chegar.

Kickflip
Que conselhos tens para dar ao pessoal que vive em meios pequenos como tu?
Para aqueles que querem evoluir o mais que possível no skate, que não desistam e que se tentem divertir ao máximo. Vão a campeonatos, façam novos amigos. Acima de tudo vão atrás de aquilo em que acreditam.
Estas são as tuas últimas palavras…
As minhas últimas palavras são de agradecimento, sobretudo para o Gualter da Carsportif. Foi ele que nos últimos anos me ajudou e muito para que eu andar de skate apoiando me com as suas marcas a DVS e a MATIX.
Á minha namorada e família. A todos os que tem andado de skate comigo. Ao Paul Rodriguez pela Inspiração e também à ONSK8 por esta oportunidade.
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