Esta vai ser sem dúvidas, uma das entrevistas mais importantes da ONSK8. Tanto pelo skater e pelo seu trajecto de vida, mas como pelo significado que é para nós, oito anos mais tarde voltar a conversar com o skater que fez o Spotlight na edição número #1 da ONSK8 enquanto revista. Hoje atravessamos uma nova era onde, infelizmente, o digital impera e a todo o custo as marcas são forçadas novas opções mais económicas, enquanto que outras se “esgueiram” a apoiar o meio, pelo qual poderiam ser mais responsáveis.
Esse não é o cerne desta entrevista, mas sim saber um pouco mais sobre um dos melhores skaters nacionais de sempre, um nome que ainda hoje nos impressiona com o seu grande nível de skate a falar mais alto.
O percurso do Ruben é um grande exemplo de um skater que lutou pelos seus ideais de vida. A sua dedicação e força de vontade superam todas as adversidades que lhe apareceram no caminho até chegar aos seus objectivos.
Tentámos saber o máximo possível e condensar tudo nesta entrevista, sinceramente achamos que raspámos a superfície do que havia para conversar e partilhar.
Podíamos estar o dia todo a fazer elogios a este skater que muito e tão bem já representou Portugal lá fora, mas vamos ao que interessa, mas não sem agradecer tudo o que já fez pelo skate nacional. Obrigado Ruben.
Passaram-se oito anos desde a tua primeira entrevista à ONSK8, já é algum tempo mas será que consegues quantificar as mudanças durante esse tempo?
Mudou muita coisa, quando dei a primeira entrevista era um puto com 18 anos, já andava de skate tinha patrocínios mas não tinha a mínima ideia do que ia acontecer…as coisas passaram muito rápido e aconteceu um pouco de tudo. Fui pai e vi o meu filho crescer, ir para a escola. Foi uma boa batalha mas aprendi a conciliar a minha vida pessoal com o skate.
Mas uma das coisas mais importantes foi que há oito anos atrás achava que já sabia muito, mas estava longe de saber o quanto evoluí com a passagem dos anos, e agora sim já me sinto verdadeiramente adulto.
Se não te estiveres a esforçar o suficiente é como tudo o resto e provavelmente não te vais conseguir manter. Mas se te dedicares e fizeres as coisas com gosto as coisas vão acabar por não custar muito e tudo se vai se tornar numa coisa mais fluida. Hoje em dia o nível está muito bom e tens que te manter em forma, pois os putos estão a andar muito. Mas eu não sinto grande pressão, continuo a fazer aquilo que gosto, ando todos os dias e faço questão de continuar a aprender e evoluir. Isso mantém-me activo e logo evoluo ou seja, continuo a ter este estilo de vida que é o meu sonho, consigo viver do skate e assim certamente que vou fazer isto por muito mais tempo.
Se a memória não me está a pregar nenhuma rasteira, lembro me de o Ricardo Fonseca numa entrevista à Kingpin ter dito o seguinte…”Uma coisa é quando vais andar de skate, outra coisa é quando tens que de andar de skate”. Concordas com essa frase?
“Ya”, concordo(risos). É o preço a pagar em certas alturas. Se queres viver do skate às vezes tens de andar de skate quando não te apetece, acho que foi isso que ele quis dizer. A tua vontade às vezes muda, o skate tem de ser uma coisa fluida e natural e isso se calhar não acontece nos teus melhores dias, ou há dias que não tens assim tanta vontade de te estares a atirar de certos sítios. Algumas vezes tenho essa sensação mas e também é esse processo que me motiva. Por vezes paro porque estou a andar num certo spot e não estou a sentir o que estou a fazer, mas quando é assim penso que estou ali por alguma razão, é aquilo que eu quero. Tento esquecer a parte má porque tenho é que me focar no positivo e as coisas se calhar começam a fluir. O Ricardo tem razão no que diz mas também temos de ver o lado positivo das coisas pois é daí que vem a recompensa no final.
És um dos skaters do team europeu da ELEMENT, e graças a isso já viajaste bastante para skatar outros lugares. De todas as viagens que já fizeste a bordo da carrinha da ELEMENT qual foi para ti a viagem que mais prazer te deu?
Fazer tours é das coisas mais gratificantes que o skate te dá, estar no team da ELEMENT e poderes viajar para países que nunca foste e skatares novos spots é das melhores coisas que o skate te pode dar. Todos os tours foram muito bons, mas aquele que está mais marcado em mim foi a primeira viagem pois era tudo uma novidade para mim, ter um lugar naquela carrinha que na altura era decorada por fora cheia de árvores. Acima de tudo foi o tornar um sonho em realidade.
A primeira viagem foi tudo uma grande surpresa, nas restantes comecei a sentir mais responsabilidade do porquê de estar a viajar e de termos produzir tanto filmagens como fotografias, tens de estar ciente do que estás ali a fazer e do mínimo que esperam de ti pois estas viagens não é só curtir. Ninguém te ensina o que tens que fazer, pois fazer um tour não é só propriamente estares presente e fazeres só o que te apetece.
De certeza que ainda tens muitas viagens que não fizeste e gostarias muito de fazer certo? Que destino é esse?
Já fui a vários sítios dos Estados Unidos como Boston, Salt Lake City e Tampa, e sempre que lá fui for para competir. Mas nunca fui para skatar na rua e também ainda não estive em L.A., mas agora pela primeira vez vou lá e vou poder fazer isso tudo, visitar a cidade os spots vou aos BERRICS e isso foi uma viagem que sempre idealizei. Mas também gostava de viajar para outros continentes ir à Austrália e fugir um pouco à cultura ocidental. Conhecer o oriente também é uma coisa que me interessa muito.
Durante todo o teu percurso já tiveste uma série de lesões, como lidas com isso cada vez que acontece.
Ainda hoje lido com isso, quem anda de skate aleija-se todos os dias. Mas falando das mais graves e que já foram algumas como partir a perna, partir os pulsos e o braço direito duas vezes. Certamente que ficam algumas mazelas e alguns fantasmas. Mas acabas por aprender a lidar com isso e de alguma maneira sempre que tinha uma lesão voltava mais confiante. É claro que depois de uma lesão tens de ir com calma e é um processo lento, estas paragens fazem-me pensar um pouco nas coisas mas quando volto, volto revigorado, com uma outra mentalidade e confiança diferente. Também tens de aprender alguma coisa com as lesões.
Evidentemente gostaria muito de não me ter aleijado tanto, a confiança hoje era outra de certeza. Uma das grandes lutas dentro do skate é mesmo isso, lutares com as dores físicas e o teu estado mental, e isso é uma coisa que não aprendes de outra maneira, só aprendes é a passar por elas.
Foste pai cedo. Como foi lidar com essa situação numa altura em que o skate certamente era a tua grande prioridade na vida?
Foi uma grande surpresa pois era algo que não estava planeado e aconteceu. Mas hoje em dia olho para trás e foi uma coisa muito boa que me aconteceu e que não me arrependo mesmo nada. Tenho um filho brutal, e é só isso que me interessa. Quando soube que ia ter um filho é claro que me questionei muito sobre o que estava a fazer e se isso não ia interferir nos meus planos. Será que vou acabar como ser como os outro e vou ter de arranjar um emprego? Mas acontece que quando o meu filho estava para nascer foi quando comecei a ser pago para andar de skate, então isso deu me a possibilidade de continuar a andar de skate e ter também não faltar com nada ao meu filho, e logo sem ter que ir à procura de um emprego para sustentar o meu filho. Ainda por cima e por viver do skate, tive e tenho mais tempo para estar mais presente na vida dele. Graças ao skate foi melhor assim.
Para além do skate o que é que fazes da vida?
A minha vida é quase 100% skate, para além do meu filho claro que tenho a minha vida pessoal. Mas de resto é skate, claro que gosto também de me divertir com outras coisas estar com os amigos, ler, ir à praia…sei lá. Mas constantemente estou focado naquilo que faço que é andar de skate(risos).
Fazes parte de um pequeno grupo de skaters que tem dado o pulo para lá da fronteira. É complicado para um skater português chegar ao lado de lá?
Não sei se é complicado. Eu acho que tens de conseguir estar no sitio certo à hora certa e também tens de ter alguma sorte. Eu tive essa sorte e consegui entrar directo para um team europeu. Nada impossibilita os skaters nacionais de chegarem longe. Os portugueses em geral, quando querem uma coisa, chegam longe, por isso tens mesmo é de te empenhar e mentalizar muito bem aquilo que queres e ir atrás disso.
E a evolução do skate nacional está no caminho certo?
Acho que a nível técnico dos skaters em si está a ir bem. Começamos a ter bons skaters ao nível dos lá de fora. Mas algumas coisas aqui precisam de mudar, precisa de haver um pouco de mudança das mentalidades tanto da parte dos skaters como também da parte de todos os restantes meios que giram em torno disto. As pessoas tem de começar a abrir um pouco mais os seus horizontes e por de parte as rivalidades que existem actualmente. O skate precisa é de ser apoiado por todos tanto pelos skaters como pelas marcas, organizações ou os media. Acho que todos deviam se lembrar um pouco mais qual é a essência do skate.
Para ti quem são os skaters nacionais que mais vês evoluir?
Espero não me estar a esquecer de ninguém mas aqueles que eu vejo a evoluir mais actualmente são o Jorginho, o Pombo e o BP. Mas existem mais que estão no bom caminho e que já têm tudo para dar certo, andam bem já têm alguns apoios mas agora depende deles e do que eles querem fazer…
À pouco tempo, nas redes sociais, alguém colocou a seguinte frase…” o skate nacional vive mais preocupado em ter o status, e de poder dizer que tem um patrocínio ou que está envolvido do que andar de skate de verdade”. Concordas?
No geral sim concordo! As pessoas têm que começar a abrir os olhos e dar valor aos apoios que têm, porque isso é uma pequena porta que se abriu e que com o tempo e dedicação até se pode tornar maior. Muitas pessoas acham-se já grandes com muito pouco, e acho q é isso mesmo que essa frase quer dizer e certamente que as pessoas que pensam assim não chegam longe devido à mentalidade. Abram os olhos porque ainda há muito caminho pela frente, e porque isto do skate é “lifetime deal”(risos).
Sendo assim o que achas que deve mudar aqui em Portugal?
Eu sei lá (risos)!!! Um bocado a mentalidade do pessoal, mas também acho que o pessoal tem de ter mais garra, não pensarem que são mais que os outros e saberem serem humildes. Não criar grandes ilusões mas acreditarem que podem ir mais longe. O pessoal pensa mais como as coisas são aqui e que isso é suficiente, mas se querem chegar longe mexam-se. Não é só ficar a andar no skatepark e ficar à espera que as coisas venham bater à porta. Por que a realidade é que as coisas não te vêm bater à porta, se não fores também atrás delas é como tudo na vida…
Achas que hoje em dia andar bem de skate só chega, ou tens de ser um pouco mais que isso para alcançar mais?
Acima de tudo tens que ter um bom nível de skate mas também tens que trabalhar um pouco o teu lado social, e se cais na graça dos outros tens a vida um pouco mais facilitada. Não considero que seja necessário, mas vai tornar a tua vida bem mais fácil. Hoje em dia com os contactos certos chegas bem mais longe. Não é porque o teu skate fale mais alto mas tudo se torna mais simples. As influências ajudam, o bom exemplo disso é hoje em dia em certos campeonatos, certas pessoas quem é patrocinado por x ou por y leva uma vantagem extra, e toda a gente repara nisso. Sempre fiz o possível para ser o skate a falar por mim.
De certeza que já começaste a pensar no que vais fazer quando não te for possível viver do skate…
Já pensei, mas isso é daquelas coisas que, quando esse cenário estiver à minha frente eu começo a pensar mais seriamente nisso. Já tenho uma série de responsabilidades na vida que me fazem ter isso em conta, mas tenho de deixar as coisas acontecerem, tu vais te adaptando ás coisas na medida em que elas acontecem. Tenho dois braços e duas pernas e com a experiencia de vida que vou adquirindo de certeza que alguma solução eu vou encontrar. Espero continuar ligado ao skate.
Antigamente eras muito mais empenhado nas competições e era a isso que te dedicavas mais. Hoje em dia ainda é assim ou já divides mais a competição com o outro lado, e andas mais de skate na rua a filmar e fotografar?
Sempre houve uma razão pela qual dantes eu era muito mais focado na competição. Antes de eu ter um ordenado, era através dos campeonatos que eu conseguia ganhar dinheiro para viver, e desde os meus 18 anos que me viro sozinho. Por isso mesmo dantes eu treinava bastante para campeonatos pois foi dessa forma que fui subsistindo e construindo o meu caminho. Com o dinheiro que ganhei foi me possível começar a viajar e melhorar a minha vida.
É claro que com o tempo as coisas foram melhorando tu próprio vais evoluindo e andar na rua sempre fez parte dos meus planos. Hoje em dia estou muito focado nessa parte, preocupo-me cada vez mais em ter boas vídeo parts, boas fotografias e ao mesmo tempo manter me em forma para conseguir dar o meu melhor e se possível vencer campeonatos.
Podemos dizer que para ti os últimos tempo têm sido bastante positivos, uma vez que tens andado bastante activo nos media e tens produzindo bastante. Mas com tanto bom trabalho feito, vais aproveitar para relaxar um pouco ou é para continuar?
Não, vou continuar a trabalhar para uma nova video part, vou tentar não desperdiçar o meu tempo e vou dar o meu melhor em cada dia que passa. Não sinto que tenha essa obrigação mas esse é o meu objectivo pessoal, e chegar a algum tempo e olhar para trás e mais uma vez ver que fiz um bom trabalho e concretizei aquilo que eu queria. Isto não é algo que eu veja agora que já está bom, para mim o caminho é sempre para a frente a fazer mais e melhor. Depois de tudo o que consegui fazer nos últimos tempos às vezes penso é que agora é que isto começou de verdade, e quero é superar o que fiz até então.
Que conselhos podes deixar para quem está a ler esta entrevista? O que é que esta vida do skate já te ensinou?
O que é que a vida no skate já me ensinou…?(risos) Acima de tudo ensinou me a nunca desistir, sobretudo quando achas que já chegaste ao teu limite. Não desistam daquilo que é mesmo importante na vossa vida, mantenham-se positivos, sonhem em grande e vivam hoje como se fosse o último dia.
Últimas palavras…
Quero agradecer à ONSK8, a minha primeira entrevista foi aqui ainda na altura que era uma revista, agora é digital e passados estes anos todos aqui estou eu mais uma vez. Aos meus patrocinadores todos a ELEMENT, DVS, NIXON, VONZIPPER, CONNECTION, INDEPENDENT, LIVEWELL, KALORIASCLUB, ENNUique me têm dado a oportunidade de continuar com esta vida, à minha família e a toda a gente que está comigo e presente na minha vida a todos eles obrigado.
http://vimeo.com/84945130
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