Tenha sido durante o tempo em que a ONSK8 era uma revista, ou agora que o projecto passou para online, as entrevistas são dos conteúdos mais premium que temos e que fazemos questão de produzir.
De todos os skaters com quem já trabalhámos em entrevistas, alguns têm se motivado mais que outros, outros sentem mais a pressão que outros, e nesta temos o Daniel Pinto que além de super motivado mesmo com a sua stressante profissão e reduzida disponibilidade para skatar, nunca baixou os braços e deu o máximo como poderás comprovar.
Sabemos bem que nem todos os skaters são da mesma “fibra”, mas gostariamos de encontrar mais skaters como o Canina, pois quanto a nós, é destes que o skate nacional mais necessita, pois seja quais forem as condicionantes estão sempre prontos para evoluir e dar o máximo.
Jovem… apresenta-te!
Sou o Daniel pinto, também conhecido como o Canina, sou de Oeiras, tenho 21 anos e ando de skate.
O que fazes da tua vida Canina? Podes-nos explicar?
Eu para além de andar de skate sou cozinheiro, trabalho num restaurante em Lisboa, gosto muito da minha profissão. Comparo o meu trabalho um bocado com o skate, pois temos de fazer algumas decisões, que têm de ser tomadas na hora e que envolvem alguma criatividade e é por isso que eu equiparo um pouco o que faço ao skate.
Mas diz uma coisa, és cozinheiro ou és um chef? Existe alguma diferença nisso?
Sim há uma grande diferença. Ser um mero cozinheiro é cozinhar debaixo de ordens e ser chef é muito mais que cozinhar. Tens de liderar uma cozinha e uma equipa, todos os alimentos, os custos etc. Eu ainda só sou um cozinheiro mas um dia mais tarde também gostaria de chefiar uma cozinha.
Conta-nos um pouco de como foi o teu primeiro contacto com o skate.
Quando entrei na escola aqui em Oeiras, tive o Gonçalo Vilardebó na minha turma, e foi ele que me levou para o skatepark, e curti logo do ambiente. No outro dia fui para lá com uma bicicleta, para estar com o pessoal. Entretanto experimentei um dos skates do pessoal, curti bué, adaptei-me bem ao skate e fui comprar um para mim. Desde então foi sempre a andar.
Outra coisa… qual é a razão de teres a alcunha de canina se tu deves ter quase um metro e oitenta?
Não! Eu já tenho mais de um metro e oitenta.(risos). Mas quanto à minha alcunha… Eu só comecei realmente a crescer quando já tinha quase 18 anos. Antes disso eu parecia um “ratinho” mesmo bem pequeno, essa alcunha já me acompanha há muito tempo, porque eu era sempre o mais pequeno da turma, e foi daí que veio a alcunha.
Certo. Tu eras um ratinho, mas sempre foste e ainda és um ratinho muito zangado refilão… Porquê pá!?
Eu não ando zangado, simplesmente acho que sou uma pessoa um bocado stressada, talvez por causa da minha profissão, porque o ambiente da cozinha pode ser bué stressante quando as coisas não correm bem. E no skate é a mesma coisa, quando as coisas não correm como eu espero, começo a perder a paciência e fico assim até ao momento que as coisas se concretizem.
Então, conta lá uma coisa… Quem são as tuas “tropas ” da skatada?
As minhas tropas são os meus putos “Oeiras skate”, a minha família do skate desde sempre, o pessoal do Reality Slap, os skaters da linha em peso, que é o pessoal para mim que ainda aí mais a partir tudo! (risos)
Mas no geral para ti em Portugal quem são os skaters que estão mais em alta?
Sem dúvida que o que está mais em alta é o Jorginho, está mais que lançado e vai ter um belo futuro. O Ruben rodrigues sempre mantém sempre o nível em cima e nunca desilude… Depois daqui dos meus amigos, o Ruka que também está a andar muito e a ver se alguém pega nele. O Gonçalo Vilardebó também.
E qual é o que te mais inspira?
Sem dúvidas que é o Allen e o Roseiro, identifico me com eles e por vezes gostaria de ter a destreza deles é gosto bué de os ver a andar.
Durante o processo desta entrevista, presenciámos algumas grandes “espetas”, mas só numa das vezes tu não foste capaz de continuar… Quais são as tuas motivações, para te levantares aguentar as dores e não desistir até teres a manobra?
Claro que é! Mas com a minha vida quase sempre a trabalhar, só conseguir skatar duas vezes por semana, não consigo suportar a ideia de ter de ficar uma semana à espera e ter de lá voltar para tentar novamente a manobra. O que eu quero mesmo é evoluir e faço tudo o que me for possível para não vir de lá de mãos a abanar. É tudo ou nada até acertar!
É o que achas dos skate nacional no geral?
Felizmente sinto que o skate está a evoluir, provavelmente graças a este aparecimento repentino de skateparks, que mais parecem cogumelos. Isso é muito bom sobre tudo para aqueles que agora começam. Mas acho que para o skate evoluir ainda mais, acho que tem de haver menos ganância e mais entreajuda, sobretudo deverá haver menos competição num meio tão pequeno.
Achas que é possível viver apenas de skate cá em Portugal?
Eu penso que não. Podes ter um grande nível de skate, mas se não sais deste retângulo na ponta da Europa… Não creio que é com esta dimensão que a indústria do skate nacional tem que consegues viver do skate. Mas se é isso mesmo que queres tens de fazer como outros já o fizeram e tens de te atirar lá para fora. O pessoal sente se muito confortável aqui, mas cá as coisas não estão fáceis para víveres do skate.
Infelizmente com o início deste ano, perdeste o teu principal patrocínio e apoio. Como é que tens lidado com isso, afinal de contas, tu quanto a nos mostras estar mais motivado e com pica, quando afinal deveria ser o oposto… embora seja importante ter as melhores condições possíveis para skatar, e o material seja importante, não achas que psicologicamente um skater também se limita por achar que tem menos condições?
Realmente torna se mais complicado quando perdes uma grande parte do suporte que tens, mas felizmente eu tenho uma pessoa que tem feito o que pode e o que não pode para que nunca me falte nada, que é o Sr. José Marques mais conhecido como o BANA, que praticamente me apoia desde o primeiro dia. Não só a mim mas como a todo o pessoal de Oeiras, que além do meu único actual patrocinador é também um grande amigo.
Eu acho que um patrocínio é uma grande motivação por vários motivos. Pois é através dele que muitos de nós evoluímos pois não estamos tão condicionados com aquele pensamento se o material aguenta ou não. Se queres evoluir a andar na rua tens de ter a certeza que tens condições para isso, senão vais para o park onde o material dura mais tempo, pois numa sessão na rua podes dar cabo do material todo. E preferi arriscar e continuar na rua pois tenho um grupo de amigos que me motivam muito.
Foi complicado para ti fazer uma entrevista? Sentiste pressão por saber que tens de arriscar e dar o teu melhor?
Pressão só mesmo de garantir que tinha isto pronto, sabendo que tenho muito pouco tempo livre. Todos os toques foram dados com amigos ou com alguém que me estava realmente a motivar, mesmo trabalhar com vocês é muito fixe, não há pressão nenhuma somos todos amigos!
Nos últimos tempo não meteste quase os pés no skatepark, e estas a bombar! Porque é tão importante o skatepark?
Na rua é que é… É lá que tu das o teu melhor e registas isso através de fotos e vídeos. Mas ultimamente sinto falta do park, para fortalecer as minhas bases, pois sinto que algumas das coisas que dei na rua podia ter dado mais depressa se tivesse trabalhado um pouco mais na minha consistência.
Sim… Mas por vezes chegas a um spot, julgas que vai ser simples, mas no final não era nada como estavas a espera.
Claro! Mas para mim o mais importante é chegar ao spot e estar convicto que vou conseguir. Se vai ser à primeira ou se vou lá ficar duas ou três horas a tentar o que interessa é que venho de lá com o toque. Mas o mais importante para mim é saber que eu consigo.
Mudando de assunto. Diz aí um local do mundo onde ainda não foste e gostarias muito de ir… Claro para skatar.
À China. Porque sem dúvida que a arquitetura lá está a favor do skate. Gostava também de conhecer a cultura. Óbvio que também quero ir aos Estados Unidos, acho que é um daqueles destinos que qualquer skater quer, poder skatar aqueles spots que vemos nos filmes. E talvez ir à Índia, penso que esta um bocado na moda, mas deve ser fixe ir a esses destinos improváveis para skatar e puxar pela imaginação e que afinal de tudo são muito diferentes do que nós estamos habituados. É isso que eu também gosto no skate… Viajar para conhecer é ter experiências.
Em que outro lugar te vês a viver?
Barcelona claro! Identifico me muito com o lugar e com o lifestyle daquele que lá se vive.
Achas que enquanto skaters acompanhamos os restantes europeus?
Acho que temos a nossa própria identidade, e por cá também temos grandes skaters… Acho q eles lá fora conseguem reunir melhores condições.
Que coisas ainda te falta fazer com o skate, que provavelmente ainda estão um pouco longe de alcançar?
Gostaria de viajar mais sobretudo com os meus amigos.
Uma coisa que penso muito e gostaria de fazer, era criar uma marca. Gostaria de contribuir com algo mais para evolução do skate, quem sabe ajudar alguns amigos. Quero que a marca de um amigo meu a FUREEK, evolua e seja ainda maior. Mas o que eu quero mesmo é continuar feliz e a skatar por muito mais tempo. Só estou a espera de ter uma situação financeira mais favorável, para me dedicar à mina marca, é um projeto que tenho de ter as coisas todas bem preparadas.
E gostas de competir?
Gosto bué de competir. Quando tu não estás em competição, nem que seja contigo mesmo. Competir é uma pica extra que tens para dar o teu melhor.
Tens uma história muito sinistra, uma vez deste um valente corte numa das mãos, para teres baixa no trabalho e poderes ir a um tour… Explica lá isso em condições!
Eu já trabalho a algum tempo, e desde que comecei a trabalhar que conheci algumas pessoas que não tem vontade nenhuma em te facilitar, e eu tinha um patrão que tinha gosto em não ajudar.
Quero desde já agradecer ao Bernard Aragão que foi o meu parceiro neste golpe, comprei uma faca de cerâmica, cortei a mão à porta do hospital, levei 8 pontos e no dia a seguir estava a arrancar para um tour… E foi isso!
E com tanto sangue a sair da mão, não caíste para o lado?
Não foi na boa, e afinal de contas não precisas das mãos para skatar… (risos)
E falando de ” franguinhas” como é andas preso a alguma?
É assim… Se todos os dias comeres canja enjoas! As vezes tem de ser franguinho assado, outras estufado, mas não pode ser sempre o mesmo tipo de prato todos os dias! (risos)
O que é para ti um dia bem passado?
Para ser bem passado o mais importante é não ir trabalhar… (risos). Depois, ter já alguma coisa combinada com os meus amigos ou ligar a vocês para irmos aí skatar alto spot, por vezes ir à descoberta e vir de lá com altas manobras… assim é um dia bem passado mas para terminar mesmo em beleza um Granda “Mac”. (risos)
Mas não achas isso uma grande contradição!? Um cozinheiro a preferir boa comida a fast food!?
Farto de boa comida já eu estou eu!(risos)
Tens um irmão que também é skater o Miguel. Como é ter um irmão que também skata?
Infelizmente não skatamos muitas vezes juntos porque os nossos horários são um tanto ou quanto oposto… Quando ele está na faculdade eu estou a trabalhar. Mas cada vez que skate com ele o puto surpreende me pois está cada vez a evoluir mais, vem sempre com um toque novo cada vez que chega a casa e é bom saber que ele está a evoluir. Espero um dia deste estar com ele na rua a skatar.
E que conselhos podes dar ao pessoal que começa agora nesta vida?
O mais importante de tudo no skate para mim são os amigos. Eles são o mais importante é maior motivação para skatar. Eu evoluo com eles, eles evoluem comigo e é esse espírito.
Para dar esta conversa como terminada… last words.
Quero agradecer aos meus amigos por me apoiarem. Quero agradecer à minha mãe por alinhar sempre nas minhas maluquices. Quero agradecer ao meu chefe por me facilitar sempre as coisas de modo a poder continuar a skatar e competir. Quero agradecer ao BANA e ao Tomás Fernandes que me apoiam, ao Ivan Vicente que está a fazer um projeto novo. Obrigado a todos os que me motivam, mas também aos que desistem de mim, que só me dão ainda mais pica.
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