Não foi simples conseguir passar algum tempo com o Thaynan, e produzir esta entrevista, uma vez que este skater não tem parado por cá quase tempo nenhum.
As viagens pelo mundo fora têm sido uma constante, e cada vez este skater tem conhecido novos destinos de sonho graças ao seu talento e ao skate.
A entrada para o team europeu da DC SHOES foi o grande “detonador” da vida muito preenchida que este skater tem vindo a atravessar, e este ano foi mesmo em cheio, com 3 video parts e claro com todo o mediatismo daí gerado.
O futuro do Thaynan está cada vez mais promissor. Achamos que este foi o timming ideal para darmos a conhecer a todos um pouco mais sobre este skater e revelar o material mais recente que temos dele em arquivo, sempre que houve hipótese de ir com ele para a rua.
Sabe bem estar algum tempo em casa certo?
Sim faz bem, eu gosto de estar em casa.
Conta-nos como tem sido a tua vida nos últimos tempos.
Nos últimos tempos eu viajei muito, o que também me fez conhecer muitos países.
Eu acho que foi isso, passei muito tempo dentro de aviões, de aeroportos, mas valeu a pena porque conheci muitos lugares e pessoas incríveis.
Como te sentes sabendo que foste um skater super mediático durante os últimos meses?
Sou famoso … pago menos pelas coisas agora! (risos)
Não sei, mas acho que para mim é a mesma coisa. Saio à rua vou andar de skate ou de bicicleta, estou com os meus amigos e é isso… para mim as coisas continuam o mesmo.
Três vídeo parts em quase um ano… nós sabemos que és uma pessoa muito calma por natureza. Conta lá uma “cena”… desta vez será que cedeste à pressão?
Não sinto pressão. Basicamente eu vejo o tempo que tenho para fazer as coisas e tento ter a verdadeira noção se consigo ou não fazer as coisas dentro do tempo que tenho para as fazer, se eu sinto que não consigo então prefiro não fazer.
Por exemplo a minha part para o filme da DC as coisas foram se fazendo de uma forma natural, à medida que ia filmado ia pensando no que queria fazer e no final acabou por correr bem e tal como eu queria. Pelo caminho é claro que houve alguns momentos mais difíceis, mas o skate é mesmo assim.
Com a malta da EMENTA foi a mesma coisa, e quando estás com os teus amigos alguma coisa boa vai acontecer no final.
O vídeo da ENJOI foi uma grande surpresa para mim, e eu achava que não ia ter parte sequer, pois tive muito tempo lesionado de um joelho e só mesmo em cima da première é que percebi que também ia estar no vídeo.
Fazendo um balanço dos últimos tempos, o ano foi mesmo muito intenso e isto tudo depois de uma operação. Como é que foi voltar a cima do skate depois de uma ida à ”faca”?
É claro que foi bom voltar a cima do skate. Bem… nunca é bom ser operado, mas a verdade é que durante o tempo de recuperação eu acabei por conhecer e fazer novas coisas…. basicamente acabei por fazer aquelas coisas que enquanto estás bem e a andar de skate nem pensas nelas.
E que coisas são essas?
Passar mais tempo na cama… (risos) falando sério, eu comecei por exemplo a perder mais tempo lendo livros, também desenhar, fazer colagens e a fotografar que era algo que eu já fazia antes, e cada vez que me lesionava era o que podia fazer. Ainda tentei tocar guitarra mas isso apenas durou alguns dias, ou mesmo horas! (risos) Ah e também passei algum tempo a jogar damas! E isso foi o que eu fiz durante os 6 meses que estive parado.
E o que é que uma pessoa aprende com uma lesão tão prolongada? Alguma coisa?
Aprendi que alongar e aquecer antes de skater é bom!(risos)
Falando sério, acho que tudo o que nos acontece nem sempre tem só um lado mau, também tem o seu lado bom.
No meio de tantas viagens, foi também altura para regressar ao Brasil. Como foi voltar especialmente a S. Paulo?
Gostei muito de lá voltar e acabei por encontrar uma cidade bem diferente. Reencontrei muitos amigos de infância e família. Foi uma temporada muito bem passada e fartei me de comer(risos).
Quanto aos spots eu continuo a preferir os europeus, embora também haja spots muito bons.
Quanto às pessoas, elas no Brasil são mais alegres. É bom estar num lugar onde as pessoas estão felizes mesmo com o pouco que têm.
Depois de um fase tão mediática como esta que estás a atravessar, uma ida definitiva para os estados unidos está cada vez mais próxima ou não?
Eu já faço várias temporadas lá na Califórnia. Não sei se posso assumir que vou para lá viver definitivamente, mas a verdade é que cada vez mais estou lá mais tempo.
Mas já começas a sofrer algumas pressões dos teus patrocinadores para estares lá mais tempo ou mesmo te mudares para lá?
Por enquanto eu consigo gerir bem esta situação, mas a verdade é que cada vez mais me pressionam para eu ir para lá. Mas sobretudo o Louie me entende e sabe que eu gosto da Europa, e estou muito bem aqui.
O que está lá é a indústria do skate, e o que eu gosto é de andar de skate e e não preciso de estar perto da parte burocrática da indústria para fazê-lo.
Achas que pode estar para breve um pro-model na ENJOI?
Para ser sincero não penso nisso. É claro que ter um pro-model é uma coisa muito boa, mas o que eu gosto mesmo é de andar de skate e me divertir com os meus amigos. Se o pro-model vier eu vou ficar muito feliz, mas é claro que não vou ser um frustrado se não tiver um, pois eu já levo a vida que sempre ambicionei. Vou sempre viver bem de qualquer das formas.
Como é fazer parte de um team como o da DC onde estão alguns dos melhores skaters da actualidade? Achas te um skater de segundo plano num lugar onde estão skaters ultra mediáticos como o Chris Cole, Mikey Taylor ou o Mike Mo?
Eu acho que o skate é tão complexo que há lugar para todos. Provavelmente esses skaters representam muito bem o lado mais profissional e mediático do skate, mas depois também há o outro lado e os skaters com que me eu me identifico mais. Na DC os skaters com que passo mais tempo são Felipe, Evan e o Wes que são também bons amigos que tenho e é com eles que eu acabo por passar a maioria do meu tempo.
Para mim o skate é uma arte e cada um se expressa de numa maneira muito própria.
Para lá do skate como é que ocupas o teu tempo?
Adoro ouvir música e passar o máximo de tempo com o pessoal da EMENTA.
Gosto de ir ao cinema e ultimamente gosto de ir aquela cena dos trampolins.
Passo também muito tempo com o Def e o Diogo a fotografar, desenhar e fazer colagens.
Adoro andar por Lisboa e acho que é isso.
Pensas fazer algo mais para além do skate?
Ainda não sei muito bem, mas é claro que penso nisso. Mas sinceramente o que gosto mais de fazer já faço que é viajar.(risos)
O que achas que foi mais determinante para ti, de modo a hoje poderes ter esta vida?
O mais importante de tudo foi o apoio que veio da minha família, dos meus amigos e acima de tudo fazer as coisas claro escutando um pouco os conselhos dos outros mas acima de tudo fazer as coisas à minha maneira.
Mas quando é que achas que se deu a viragem para ti, sobretudo aquele momento em que entraste para a DC Europa?
Acho que tudo mudou quando conheci o Madars por causa de certas idas a campeonatos aqui na Europa, o Madars sempre gostou de mim embora não fosse fácil comunicar com ele porque eu quase não falava inglês na altura. Mas foi ele que e acabou por me dar a conhecer ao Gaston que era o team manager na Europa.
A DC estava à procura de um novo Amador na Europa e o Gaston me convidou para ir para Barcelona uns tempos. Mais tarde juntei-me ao team para um tour a Itália, e depois disso acabei sendo integrado no grupo.
Inicialmente era para estar apenas um mês em Barcelona e acabei por ficar lá um ano. Durante esse tempo que lá estive skatei muito, também viajei e acabei por conhecer pessoas como o Louie que me ajudaram a chegar até aqui.
Uma questão muito interessante para ti é a seguinte… aos 16 anos, tens uma vida completamente nova à tua frente. Vais para Barcelona para skatar, mas nós também sabemos que Barcelona é uma cidade de muita loucura e excesso. Acabaste por também te perder na vida louca da cidade?
Também vi e vivi esse lado. E teve coisas boas e outras más. Afinal de contas de um dia para o outro estás a viver numa cidade nova com os teus amigos e só fazes aquilo que te apetece.
Tive uma altura que skatei menos e saí muito à noite, provavelmente foi uma altura de muitos excessos, mas a verdade é que aprendi a viver um certo tipo de coisas mais ráppido que o habitual. A diferença é que vivi certas coisas de um modo mais intenso e provavelmente foi uma das melhores alturas da minha vida até agora.
Mas por vezes são em situações como essas que por vezes uma pessoa pode perder um pouco o rumo das coisas, e as vezes é complicado voltar a recuperar delas certo?
Sim claro, mas eu fui vendo que algumas coisas ao fim de um certo tempo começaram a ser um pouco banais, e eu fui capaz de ver isso. Como já não me estava a divertir como antes, eu fui capaz de perceber que isto não é algo para estar a fazer sempre. Foi uma fase. Provavelmente outros não percebem que isto é uma fase e perdem o controle das coisas.
És skater em Barcelona e tens acesso a tudo e mais alguma coisa, porque as pessoas te conhecem. Se não te controlas essa vida começa a tornar-se um hábito e achas que não te afecta. O skate está cheio de histórias dessas.
Neste momento conheces três realidades bem distintas sobre o skate, a nacional, a da Europa e a dos Estados Unidos onde está fundeada a indústria. Continua a ser lixado para um skater de cá dar o salto e conseguir chegar provavelmente à Califórnia?
Eu acho que aqui em Portugal anda muita gente focada em serem skaters “robôs”. Não digo isto para falar mal, mas acho que o pessoal por cá tem de abrir um pouco a mente, e ver que o skate não passa só por acertar manobras incríveis e super técnicas, a parte do teu sucesso não é porque somos mais um igual a muitos outros, mas sim porque somos genuínos.
É claro que estamos aqui num cantinho, e a verdade é que provavelmente não temos assim tanta conecção com o resto da Europa. Normalmente é daí que podes ambicionar a voar para mais longe.
Como é que tu vês esta coisa, de quase todas as semanas há um skater daqueles com um nome de peso, a abandonarem marcas que os suportam à muitos anos por outras, ou a decidirem começarem eles as suas marcas mais underground?
Se prestarem muita atenção a maioria dos skaters que abandonam certas marcas, são lendas do skate.
O que eu acho é que estes skaters ao fundarem novas marcas, querem devolver o skate aos skaters.
Hoje em dia uma boa parte das marcas, são grandes corporações e são dirigidas por pessoas que não entendem nada de skate e só querem saber de dinheiro.
O que estes skaters querem é voltar a trazer as marcas para o controlo dos skaters, e darem as mesmas coisas boas que se estão a perder aos mais novos assim como eles tiveram essa oportunidade.
Quando tu tens um skater à frente de uma marca, normalmente há um relacionamento entre skaters, e quando tens alguém de fora do skate tens um relacionamento com alguém que manda em ti.
Todos nós já percebemos que o skate está num ponto de viragem. O que é que na tua opinião tem sido de bom nesta transição e o que achas que pode nos estar a prejudicar?
A verdade é que só agora os skaters estão verdadeiramente a ganhar dinheiro, mas eles estão a ganhar esse dinheiro de marcas que são de fora do skate. Por um lado isso é bom para os skaters que estão a ser capazes de capitalizar. Mas por outro lado isto está a ser muito mau para as marcas do skate, que estão a começar a ser a destruídas por algumas das corporações.
O que vai acontecer é que o skate ao crescer cada vez mais e a ser mais mainstream, também vai gerar uma maior comunidade underground.
Podemos até a vir a ter muitos “atletas” no skate, mas também vamos ter cada vez mais skaters que apenas querem skatar e divertir-se entre amigos.
Eu li à pouco a entrevista do Evan e ele diz a frase certa… “não podes achar que o skate te vai dar tudo, pois da mesma forma ele te pode tirar tudo ainda mais rápido”.
O que é tu pensas actualmente das competições?
Para mim agora só me interessa o ouro das olimpíadas!(risos)
Eu não tenho mais interesse em competições, não tenho nada contra nem sou um “hater” de campeonatos, apenas me desliguei da competição.
E se fosses convidado para a Street league.
Acho que sim. Não é a cena que gosto, mas passaria 2 dias com amigos que também estão participando.
Mas no geral achas que faz bem ao skate este tipo de eventos?
Acho que tem os dois lados, porque hoje em dia há muitos putos que andam de skate e tu perguntas a eles já viram algum vídeo de skate, e provavelmente eles te respondem que vêm a Street league. Isso não é skate, isso é um circo criado para ganhar dinheiro através da televisão.
Os miúdos crescem com isso e isso não é skate de verdade, porque o skate verdadeiro é nas ruas.
Os putos começam a crescer com isso, e é isso que eles vão querer ser.
No Street league há muitos skaters genuínos, mas também há muitos homens de negócios.
Uma grande parte do skate actualmente depende da internet, e parte do que se passa na net não é bom.
À dois anos atrás tivemos uma pequena conversa e na altura eu te tinha perguntado, como é que tu achavas que estava o estado do skate por cá. Agora gostaríamos de saber se algo mudou entretanto.
O skate em Portugal é uma comunidade pequena e ainda tem muito por onde crescer. Mas pode não crescer da melhor maneira, pois atrás de muitas das marcas estão pessoas que não entendem nada de skate, e essas pessoas só vem números.
O que eu acho que por aqui ainda acontece muito é que os skaters não se valorizam, e as marcas acabam por tomar partido dessa situação.
O pessoal devia ter mais iniciativa, e não continuar à espera daquilo que provavelmente nunca virá.
Os skaters entre amigos deviam fazer mais coisas, tal como fazer os próprios spots ou arranjar os que já não estão bons.
Se tem uma câmara para filmar, façam os vossos vídeos.
Eu sei que o skatepark é muito bom, mas a rua também o é. A rua é onde se aprende mais, e o skate é daí que vem e não das rampas que muitos diariamente descem.
Eu acho que é isso.
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